<$BlogRSDURL$>

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Filme de terror com uma boa banda sonora 

De manhã enquanto me aventuro no caminho do trabalho, no meu automóvel gosto de ouvir a Antena 2 (programa "Acordar a 2"). Assim as cenas de guerra civis e os habituais atentados à inteligência feitos por (outros) automobilistas deixam de ser uma rotina perigosa e tornam-se num filme de terror com uma boa banda sonora. Esta semana já vi: "o camião assassino", "o táxi criminoso", "a betoneira suicida","o Tunning para morte", "a grua do Inferno", etc... Acompanhados com uma banda sonora do tipo: 9ª Sinfonia de Bethovann ou o "Verão" de Vivaldi. Às vezes, não consigo distinguir os tambores das batidas do meu coração. É nessas alturas que me despeço da vida (esta semana foram 5) e penso que nunca mais posso ver aquela miúda gira de cabelos escuros que conheci na biblioteca.

Mas voltando à Antena 2:

No dito programa disseram que o Astor Piazzola não era natural da Argentina, que tinha nascido nos Estados Unidos. Era filho de emigrantes Argentinos, mas não foi criado com aquelas carnes bovinas das planícies da América do Sul, nem pode ver os gelos da Patagónia e muito menos brincou com os outros meninos na foz do rio de la Plata.

A seguir vão dizer o quê: Charly Chaplin não era Americano mas Inglês, Hergé não era Francês mas Belga, Albert Camus também não era Francês mas Argelino ou que o Adolfo era Austríaco e não alemão.

Conclusão:

A maioria das pessoas recorda-se de Piazzola pelo Tango e não pela sua nacionalidade. Eu também gostava....não fosse "o camião assassino".

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

"À espera da próxima Lua" de Boutros Boutros-Gali 

Ontem, no jornal "Público" o comentador Mário Mesquita escreveu sobre o novo livro do antigo Secretário-Geral da ONU (1992-96). O artigo pode ser consultado em: À espera da próxima Lua. Refiro, a seguir, umas citações que me parecem muito interessantes.

"O diário de Boutros-Gali é rico em observações de um actor experimentado, enquanto se desloca aos quatro cantos da francofonia, da Europa à América, da África à Ásia."

"A hiperpotência é, acima de tudo, no plano da política externa, uma forma de patologia semelhante às infecções que se designam, em medicina, pelo prefixo "hiper": hipertensão, hipertrofia, hipercromia...". O problema é que a fidelidade aos grandes se mede quase sempre pela capacidade de aceitar os excessos do poder. Neste domínio não há lugar para meios termos. Distanciar-se dos desvios ou dos abusos é meio caminho andado para a marginalização ou para a dissidência."

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

"Ensaio sobre a Lucidez" de José Saramago 

Começo por afirmar que José Saramago é um dos meus escritores favoritos. Seja então este artigo uma opinião em particular e não uma banalidade em geral.

Introdução:

O livro têm uma orientação do geral para o particular. Começa com a insurreição da cidade capital e acaba sem um "final". Pelo meio há: personagens tipo 007, governantes armados em ditadores de segunda, veículos a alta velocidade, tiros, bombas, coragem, etc.. coisas que bem podiam ser usadas em Hollywood não fosse a mensagem ser um convite à mobilização política contra um mau sistema (o actual, segundo Saramago). Se a trama se passasse num país Árabe era de pensar fazer um filme, afinal a liberdade é para todos, assim como é na Europa - não queremos arranjar problemas.



Do que trata o livro:

A cidade capital vota massiçamente em branco. É o princípio de um ataque a uma Democracia (a actual) com a qual os cidadãos não se identificam. A ideia é a retirada da confiança do cidadão a este tipo de Sistema. Isto tem a ver com a ideia do poder ser definido como uma dádiva de autoridade do indivíduo ao estado para proporcionar um maior bem comum. Ora se o indivíduo afronta o Estado é porque a população acha que o "bem comum" está a ser mal gerido. A personagem população, na sua faceta política, termina porque é em termos sociais que se vê toda a sua pujança. Há um contrato social tácito, mais ou menos segundo os modos de Locke, assunto que vou desenvolver em próximos artigos e depois de alguma investigação.

O poder político (Governo) é composto por personagens cobardes, mesquinhas sem espinha dorsal em constantes exercícios de genuflexão onde só interessa o "Poder". Uma caricatura bem feita e muito engraçada.

O rumo do livro muda, mais ou menos a meio, quando a atenção passa da população em geral para um grupo de personagens já conhecido do "Ensaio sobre a cegueira". O Mundo do "Ensaio sobre a lucidez " é o mesmo do "Ensaio sobre a cegueira". De notar o modo como o Estado usa (e abusa) de um acontecimento passado durante a "Cegueira" alimentando, através da imprensa, mentiras e calúnias tentando desviar as atenções do problema que é o ataque a esta (do livro) "má" Democracia.

O estilo:

É de Génio (com letra grande) a maneira como Saramago escreve. Quem antes dele conseguiu fazer livros, repito livros, quase sem pontuação mas onde se tudo se compreende? Entende-se: quem fala, o que diz, como o diz, a quem se dirige, quais os pensamentos do narrador (omnisciente como é hábito), entende-se tudo. Não só faz arte como também eleva o patamar da técnica artística (daí o G grande no génio de há bocado).

Conclusão:

Disser que gostei ou que acho o livro brilhante é um pouco banal. E provavelmente não é assim que vos convenço. Este é daqueles livros que nos ataca quando menos se espera. Estamos na paragem de autocarro ou no supermercado a comprar verduras e de repente -Zás- recordamos a situação do comissário de Polícia, do Presidente da Câmara ou do Ministro do Interior.

Há qualquer coisa de George Orwell ("1984") neste livro. A "cegueira" usada como desculpa, podia ser outra coisa qualquer a servir de pretexto para este tipo de Estado (apoiado neste sistema), para esmagar o indivíduo. Como em "1984" não há um fim. Suponho que a acção continua, sendo necessário (tal como em "1984") estar atento à realidade (a nossa realidade).

O voto em branco é uma forma de protesto. O principal é a contestação a um sistema errado que só se consegue vencer com o apoio de toda a população de forma consciente.


P.S.-Quero agradecer a ajuda do Perplexo. Sem ele, ler este texto teria sido tarefa complicada.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?