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quarta-feira, julho 14, 2004

"Easy Rider" 

Resolvi tanscrever um excerto de um livro acerca da viagem de um gajo, que antes dos 23 anos resolveu sair da escola e percorrer a Europa à procura da sua própria "cena". Ele queria mais do que o seu meio lhe podia oferecer, derrubou barreiras e criou as suas próprias regras.

Excerto:
Aqui está por que, apenas a idade me possibilitou sair da submissão aos
meus preceptores, abandonei totalmente o estudo das letras. E, decidindo-me a não mais procurar outra ciência além daquela que poderia encontrar em mim mesmo, ou então no grande livro do mundo, aproveitei o resto de minha juventude para viajar, para ver cortes e exércitos, para frequentar pessoas de diferentes humores e condições, para fazer variadas experiências, para pôr a mim mesmo à prova nos reencontros que o destino me propunha e, por toda parte, para refletir a respeito das coisas que se me apresentavam, a fim de que eu pudesse tirar algum proveito delas. Pois acreditava poder encontrar muito mais verdade nos raciocínios que cada um forma no que se refere aos negócios que lhe interessam, e cujo desfecho, se julgou mal, deve penalizá-lo logo em seguida, do que naqueles que um homem de letras forma em seu gabinete a respeito de especulações que não produzem efeito algum e que não lhe acarretam outra consequência salvo, talvez, a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais afastadas do senso comum, por causa do outro tanto de espírito e artimanha que necessitou empregar no esforço de torná-las prováveis. E eu sempre tive um enorme desejo de aprender a diferenciar o verdadeiro do falso, para ver claramente minhas acções e caminhar com segurança nesta vida.



(René Descartes, o "Easy Rider" do século XVII)

Comments:
especulações que não produzem efeito algum e que não lhe acarretam outra consequência salvo, talvez, a de lhe proporcionarem tanto mais vaidade quanto mais afastadas do senso comum

Fatalidades de qualquer especialista. O abstracto troca-se pelo concreto mais facilmente manipulavel. Queixam-se os rebeldes de falsa (e tao confortavel que chega a irritar) sensacao de controlo.

Moi/Me ;-)
 
O problema é a vaidade. Afastar-se do senso comum é em termos de ciências um fatalidade, e ainda bem, mas tem de cumprir com a resolução de problemas reais.
O problema para Decartes é que mesmo frequentando a Universidade, sentia-se insatisfeito com a que tinha aprendido. Mais: a ciência não se adequava ao real.

Descartes rebelou-se, porque considerou a necessidade de um método objectivo no estudo das ciências. Isto foi uma inovação.
Considerou uma base matemática, para o método, dando assim "objectividade" as ciências, não matemáticos (estes já tinham).
Era um bom rebelde porque sabia o que queria, e isso não passava só pelo seu conforto pessoal.
 
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