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quarta-feira, fevereiro 16, 2005

"Ensaio sobre a Lucidez" de José Saramago 

Começo por afirmar que José Saramago é um dos meus escritores favoritos. Seja então este artigo uma opinião em particular e não uma banalidade em geral.

Introdução:

O livro têm uma orientação do geral para o particular. Começa com a insurreição da cidade capital e acaba sem um "final". Pelo meio há: personagens tipo 007, governantes armados em ditadores de segunda, veículos a alta velocidade, tiros, bombas, coragem, etc.. coisas que bem podiam ser usadas em Hollywood não fosse a mensagem ser um convite à mobilização política contra um mau sistema (o actual, segundo Saramago). Se a trama se passasse num país Árabe era de pensar fazer um filme, afinal a liberdade é para todos, assim como é na Europa - não queremos arranjar problemas.



Do que trata o livro:

A cidade capital vota massiçamente em branco. É o princípio de um ataque a uma Democracia (a actual) com a qual os cidadãos não se identificam. A ideia é a retirada da confiança do cidadão a este tipo de Sistema. Isto tem a ver com a ideia do poder ser definido como uma dádiva de autoridade do indivíduo ao estado para proporcionar um maior bem comum. Ora se o indivíduo afronta o Estado é porque a população acha que o "bem comum" está a ser mal gerido. A personagem população, na sua faceta política, termina porque é em termos sociais que se vê toda a sua pujança. Há um contrato social tácito, mais ou menos segundo os modos de Locke, assunto que vou desenvolver em próximos artigos e depois de alguma investigação.

O poder político (Governo) é composto por personagens cobardes, mesquinhas sem espinha dorsal em constantes exercícios de genuflexão onde só interessa o "Poder". Uma caricatura bem feita e muito engraçada.

O rumo do livro muda, mais ou menos a meio, quando a atenção passa da população em geral para um grupo de personagens já conhecido do "Ensaio sobre a cegueira". O Mundo do "Ensaio sobre a lucidez " é o mesmo do "Ensaio sobre a cegueira". De notar o modo como o Estado usa (e abusa) de um acontecimento passado durante a "Cegueira" alimentando, através da imprensa, mentiras e calúnias tentando desviar as atenções do problema que é o ataque a esta (do livro) "má" Democracia.

O estilo:

É de Génio (com letra grande) a maneira como Saramago escreve. Quem antes dele conseguiu fazer livros, repito livros, quase sem pontuação mas onde se tudo se compreende? Entende-se: quem fala, o que diz, como o diz, a quem se dirige, quais os pensamentos do narrador (omnisciente como é hábito), entende-se tudo. Não só faz arte como também eleva o patamar da técnica artística (daí o G grande no génio de há bocado).

Conclusão:

Disser que gostei ou que acho o livro brilhante é um pouco banal. E provavelmente não é assim que vos convenço. Este é daqueles livros que nos ataca quando menos se espera. Estamos na paragem de autocarro ou no supermercado a comprar verduras e de repente -Zás- recordamos a situação do comissário de Polícia, do Presidente da Câmara ou do Ministro do Interior.

Há qualquer coisa de George Orwell ("1984") neste livro. A "cegueira" usada como desculpa, podia ser outra coisa qualquer a servir de pretexto para este tipo de Estado (apoiado neste sistema), para esmagar o indivíduo. Como em "1984" não há um fim. Suponho que a acção continua, sendo necessário (tal como em "1984") estar atento à realidade (a nossa realidade).

O voto em branco é uma forma de protesto. O principal é a contestação a um sistema errado que só se consegue vencer com o apoio de toda a população de forma consciente.


P.S.-Quero agradecer a ajuda do Perplexo. Sem ele, ler este texto teria sido tarefa complicada.

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